HISTÓRIAS DE CONTRABANDO
Um sujeito espanhol, de Aldeadávila de La Ribera, certo dia furtou um santo
da igreja local por encomenda de uns portugueses de Vilarinho dos Galegos. O
ícone tinha praticamente o tamanho de um homem de estatura mediana. Durante o
percurso até ao rio, que fez com a ajuda de um contrabandista experimentado,
foram surpreendidos por uma patrulha de carabineiros que lhes fizeram alto. Os
homens, para não serem apanhados, abandonaram a estatueta e fugiram,
escondendo-se nas redondezas. Os polícias espanhóis, no meio da escuridão,
apenas vislumbravam uma figura hirta e silenciosa. Pediam-lhe a identificação,
mas o sujeito teimava em não falar. Os carabineros pressentiram na postura
desafiante uma ameaça e não estiveram com meias medidas: desataram aos tiros
contra o santo. Como viram que não se mexia, aproximaram-se e depararam-se com
o estranho cenário. Perceberam logo que tinham feito asneira e antes que alguém
os identificasse, e para não serem alvo da chacota popular, puseram-se
imediatamente a andar, sem dizerem palavra a ninguém acerca do sucedido. Os
contrabandistas voltaram lá, recuperaram o santo e levaram-no ao destino, ou
seja, para Vilarinho. Porém, os compradores quando constataram o estrago feito
pelas balas já não o quiseram. Conclusão: não restou outra opção ao
desafortunado ladrão que não fosse queimar o objecto do crime, para se desfazer
das provas. (NETO, Antero, in "Apontamentos para a História de
Ventozelo" - fonte: GARCÍA, Juan Daniel Cruz-Sagredo, “Contrabandistas
somos y en el descamino nos encontraremos”).