segunda-feira, 22 de junho de 2020

"Histórias do Contrabando"


HISTÓRIAS DE CONTRABANDO
Um sujeito espanhol, de Aldeadávila de La Ribera, certo dia furtou um santo da igreja local por encomenda de uns portugueses de Vilarinho dos Galegos. O ícone tinha praticamente o tamanho de um homem de estatura mediana. Durante o percurso até ao rio, que fez com a ajuda de um contrabandista experimentado, foram surpreendidos por uma patrulha de carabineiros que lhes fizeram alto. Os homens, para não serem apanhados, abandonaram a estatueta e fugiram, escondendo-se nas redondezas. Os polícias espanhóis, no meio da escuridão, apenas vislumbravam uma figura hirta e silenciosa. Pediam-lhe a identificação, mas o sujeito teimava em não falar. Os carabineros pressentiram na postura desafiante uma ameaça e não estiveram com meias medidas: desataram aos tiros contra o santo. Como viram que não se mexia, aproximaram-se e depararam-se com o estranho cenário. Perceberam logo que tinham feito asneira e antes que alguém os identificasse, e para não serem alvo da chacota popular, puseram-se imediatamente a andar, sem dizerem palavra a ninguém acerca do sucedido. Os contrabandistas voltaram lá, recuperaram o santo e levaram-no ao destino, ou seja, para Vilarinho. Porém, os compradores quando constataram o estrago feito pelas balas já não o quiseram. Conclusão: não restou outra opção ao desafortunado ladrão que não fosse queimar o objecto do crime, para se desfazer das provas. (NETO, Antero, in "Apontamentos para a História de Ventozelo" - fonte: GARCÍA, Juan Daniel Cruz-Sagredo, “Contrabandistas somos y en el descamino nos encontraremos”).


Autor: Antero Neto Lopes