Tia Olívia Tabaco, possivelmente a última rezadeira judaica de Vilarinho dos Galegos (Mogadouro, Portugal),
Que acendia as “candeias do Senhor”, às sextas-feiras à noite, com torcidas “rezadas”, na velha cozinha da sua modesta casa, “pintada” com as negras cores de muitos rigorosos invernos nordestinos e que ensinou muitas tradições ao seu povo e rezas ao seu Adonai. Com o cerrar dos olhos da última rezadeira de Mogadouro. Pela tia Olívia Tabaco ficou um carinho muito especial, na verdade ela partilhou aquilo que tinha de mais precioso, a memória do Seu Povo, a Tradição... Comovida, as lágrimas de saudade a escorrerem pela sua face quando falava do seu tempo de mocidade, do tempo dos velhos marranos, rosto curtido por muitos invernos, mais parecia um velho pergaminho...Que Adonai esteja sempre contigo tia Olívia na última viagem, para junto do resto do teu povo, do povo de Moisés, que acompanhem tantas luzes como aquelas que tu acendestes a ELE todas sextas-feiras à noite nas velhas candeias de azeite puro e com as torcidas rezadas, como quem desfia um rosário... Dona: Olívia Rodrigues “Tabaco”
Os Judeus na Obra de Trindade Coelho” contribuiu muito para isto. O seu lançamento público excedeu as melhores expectativas, o salão nobre da Câmara Municipal de Mogadouro foi pequeno para tanta gente e largas dezenas tiveram mesmo de ficar no corredor. Em poucos meses, o livro esgotou. No seu lançamento os oradores (António Júlio Andrade, Dr. Álvaro Leonardo Teixeira, Professora Maria de Jesus Sanches e Dr. João Guerra) foram brilhantes, cativaram a atenta assistência. Contudo gostaria de destacar duas pessoas que se encontravam presentes e que impressionaram a assistência pelos seus testemunhos pessoais: o Dr. João Guerra e o Elias Nunes. O Dr. João Guerra porque é transmontano, de Freixo de Espada-à-Cinta, descendente de judeus, voltou novamente à religião e tradições de seus avoengos. Retomou novamente o fio que a horrível Inquisição tentou, em vão, cortar. Não teve complexos, magistrado, não hesitou em responder o chamamento do sangue. O Elias Nunes, comerciante, de Belmonte (actualmente presidente da Comunidade Judaica de Belmonte), era o representante vivo, felizmente muito vivo, de um povo mártir, que sofreu na pele os horrores da Inquisição e a discriminação da estupidez, da intolerância e da xenofobia mas que a tudo isso resistiu e que contra tudo e contra quase todos manteve a tradição, a integridade e a fé do seu povo. As pessoas viram alí, bem diante dos seus olhos, um jovem, com a sua esposa, que se afirmava Judeu, que não tinha vergonha, antes orgulho, de nas suas veias correr o sangue de cristãos-novos, de marranos que muito sofreram mas que continuava vivo, de cabeça bem levantada. As pessoas estavam habituadas a verem só estudos sobre marranos como coisa do passado. Tudo estaria perdido...Tudo estaria já encoberto pela poeira do tempo...Só uma vaga recordação de uma passado já longínquo... De repente viram que não, que ali estava não um papel amarelecido pelo tempo, mas o representante vivo de uma comunidade viva, como o foram outrora as de Azinhoso, Vilarinho dos Galegos, Argoselo, Carção, Mogadouro...Isso mexeu com eles, tocou-lhes fundo da alma, mexeu na sua memória colectiva... De repente, viram que aquilo que as suas avós e seus pais lhes ensinaram tinha sentido, correspondia a uma cultura, estava-lhes no sangue..Lembro-me assim de repente que duas pessoas disseram o seguinte: “Sabe, o meu tio que tinha um sóto em Mogadouro dizia-me que nunca se devia varrer o sóto no Sábado, dava azar..., sempre achei que ele “não batia bem da bola”, agora sei porque é que ele, que era de
Argoselo, me dizia isso..”, ou aquele habitante do Azinhoso que fez questão em mostrar onde eram os “pelames” no Azinhoso...Tinham a necessidade de me dar o seu testemunho, de dizer que também eles tinham sangue...judeu ! Sei que procuram as suas raízes, a sua memória.
Nota:
1 “chuço” é, em Vilarinho dos Galegos um cristão-velho, que não é descendente
de judeus. http://www.ahjb.com.br/pdf/jornal_may00.pdf
Que acendia as “candeias do Senhor”, às sextas-feiras à noite, com torcidas “rezadas”, na velha cozinha da sua modesta casa, “pintada” com as negras cores de muitos rigorosos invernos nordestinos e que ensinou muitas tradições ao seu povo e rezas ao seu Adonai. Com o cerrar dos olhos da última rezadeira de Mogadouro. Pela tia Olívia Tabaco ficou um carinho muito especial, na verdade ela partilhou aquilo que tinha de mais precioso, a memória do Seu Povo, a Tradição... Comovida, as lágrimas de saudade a escorrerem pela sua face quando falava do seu tempo de mocidade, do tempo dos velhos marranos, rosto curtido por muitos invernos, mais parecia um velho pergaminho...Que Adonai esteja sempre contigo tia Olívia na última viagem, para junto do resto do teu povo, do povo de Moisés, que acompanhem tantas luzes como aquelas que tu acendestes a ELE todas sextas-feiras à noite nas velhas candeias de azeite puro e com as torcidas rezadas, como quem desfia um rosário... Dona: Olívia Rodrigues “Tabaco”
Os Judeus na Obra de Trindade Coelho” contribuiu muito para isto. O seu lançamento público excedeu as melhores expectativas, o salão nobre da Câmara Municipal de Mogadouro foi pequeno para tanta gente e largas dezenas tiveram mesmo de ficar no corredor. Em poucos meses, o livro esgotou. No seu lançamento os oradores (António Júlio Andrade, Dr. Álvaro Leonardo Teixeira, Professora Maria de Jesus Sanches e Dr. João Guerra) foram brilhantes, cativaram a atenta assistência. Contudo gostaria de destacar duas pessoas que se encontravam presentes e que impressionaram a assistência pelos seus testemunhos pessoais: o Dr. João Guerra e o Elias Nunes. O Dr. João Guerra porque é transmontano, de Freixo de Espada-à-Cinta, descendente de judeus, voltou novamente à religião e tradições de seus avoengos. Retomou novamente o fio que a horrível Inquisição tentou, em vão, cortar. Não teve complexos, magistrado, não hesitou em responder o chamamento do sangue. O Elias Nunes, comerciante, de Belmonte (actualmente presidente da Comunidade Judaica de Belmonte), era o representante vivo, felizmente muito vivo, de um povo mártir, que sofreu na pele os horrores da Inquisição e a discriminação da estupidez, da intolerância e da xenofobia mas que a tudo isso resistiu e que contra tudo e contra quase todos manteve a tradição, a integridade e a fé do seu povo. As pessoas viram alí, bem diante dos seus olhos, um jovem, com a sua esposa, que se afirmava Judeu, que não tinha vergonha, antes orgulho, de nas suas veias correr o sangue de cristãos-novos, de marranos que muito sofreram mas que continuava vivo, de cabeça bem levantada. As pessoas estavam habituadas a verem só estudos sobre marranos como coisa do passado. Tudo estaria perdido...Tudo estaria já encoberto pela poeira do tempo...Só uma vaga recordação de uma passado já longínquo... De repente viram que não, que ali estava não um papel amarelecido pelo tempo, mas o representante vivo de uma comunidade viva, como o foram outrora as de Azinhoso, Vilarinho dos Galegos, Argoselo, Carção, Mogadouro...Isso mexeu com eles, tocou-lhes fundo da alma, mexeu na sua memória colectiva... De repente, viram que aquilo que as suas avós e seus pais lhes ensinaram tinha sentido, correspondia a uma cultura, estava-lhes no sangue..Lembro-me assim de repente que duas pessoas disseram o seguinte: “Sabe, o meu tio que tinha um sóto em Mogadouro dizia-me que nunca se devia varrer o sóto no Sábado, dava azar..., sempre achei que ele “não batia bem da bola”, agora sei porque é que ele, que era de
Argoselo, me dizia isso..”, ou aquele habitante do Azinhoso que fez questão em mostrar onde eram os “pelames” no Azinhoso...Tinham a necessidade de me dar o seu testemunho, de dizer que também eles tinham sangue...judeu ! Sei que procuram as suas raízes, a sua memória.
Nota:
1 “chuço” é, em Vilarinho dos Galegos um cristão-velho, que não é descendente
de judeus. http://www.ahjb.com.br/pdf/jornal_may00.pdf
3 comentários:
Sou brasileira, filha de português chamado Manoel Augusto Rodrigues, filho de Joaquim Rodrigues e Maria Cândida Lopes. Meu pai vivia em Vilarinho dos Galegos e gostaria de me comunicar com algum familiar! Meu nome é Anna Rodrigues Stein, e meu email é annastein@terra.com.br
para correção: meu avô chamava-se Manuel Joaquim Rodrigues e minha avó Candida Augusta Lopes. Se algum familiar puder se comunicar, gostaria muito. Anna- e mail annastein@terra.com.br
Também sou filho de Português. Meu pai viveu em Vilarinho até os 7 anos de idade quando veio para o Brasil em 1940. Atualmente temos uma grande família representando os Brandão.
Infelizmente perdi meu pai há pouco tempo. Hoje estou aqui homenageando meu paizão visitando e relembrando suas histórias, às quais contava com muito orgulho em ser Português e ter nascido em VILARINHO DOS GALEGOS.
Abraços a todos os Galegos de Vilarinho.
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